Guia do Mochileiro da Galaxia


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De tanto que eu li na minha vida, eu sinto obrigação de indicar alguns. Esse para mim é um clássico que todo ser já deveria ter lido. Na minha opinião.  Nem que seja para entender o porque da resposta para a Vida, o Universo e Tudo mais ser 42. Só falta a pergunta. A despeito de ser uma série simples, de livros finos, sem muitas explicações e nem aprofundamento,  os livros constam com detalhes tão ricos que é preciso fazer uma análise de quase todos os parágrafos. Sim, não é um livro habitual  e é aí que ele ganha da maioria para mim e perde para tantas outras pessoas. É o tipo de livro que você quer compartilhar com os outros e que os outros tendem a achar chatos. :(



História


A trilogia de cinco que na realidade era para ser de quatro



Aparentemente simples, na realidade é confusa. Arthur Dent está prestes a ter sua casa destruída para passar uma via expressa. O projeto ficou exposto na prefeitura durante um ano, sem o conhecimento dele. Isso não importa segundo seu melhor amigo, Ford Prefect, porque a Terra  também está prestes a ser destruída para que uma via expressa possa ser construída. Nada surpreendente, o projeto também ficou exposto por um ano. E Ford só sabe disso por causa de seus inúmeros conhecimentos, afinal ele veio de um pequeno planeta nos arredores de Betelgeuse e estava na Terra para fazer pesquisas para a nova edição do Guia dos Mochileiro da Galaxia, o livro mais importante da Galaxia. E a razão segundo Douglas Adams é:

A razão de o Guia do Mochileiro das Galáxias ser o livro de maior sucesso da galáxia é, em primeiro lugar, por ser menor e ligeiramente mais barato do que a Enciclopédia Galáctica e, em segundo lugar, por trazer a frase “Não Entre em Pânico” em letras garrafais e amigáveis escrita na capa.

E com uma toalha e os conhecimentos do Guia, eles conseguem escapar da Terra. E daí em diante, contrariando os desejos de Arthur de simplesmente ficar largado num canto podendo tomar chá com leite e lendo jornal, eles são jogados de um canto ao outro da Galaxia no decorrer dos livros. Junto deles estão Tricia Mcmillan, uma garota de quem Arthur cantou em uma festa mas que preferiu ir "ver a nave espacial" de um sujeito. Sujeito esse o chamado Presidente da Galaxia ( não se iluda com o nome do título, de fato não é nada especial), Zaphod Beeblebrox cujas duas cabeças vivem a brigar.

Não espere amplas descrições de cenas de batalhas cinematográficas, os personagens estão angustiados demais para isso, em especial, o robô Marvin cujo cérebro do tamanho de um planeta faz com que viva em constante depressão.


O robô mais simpático da Galaxia no filme tem a dublagem feita pelo adorável Alan Rickman




Com um humor irônico, Douglas Adams vai criticando cada ponto da nossa sociedade, nossos hábitos diários e nossas preocupações infundadas, principalmente como tudo pode acabar tão rápido. Críticas ao consumismo, a religião, ao nosso comportamento, como somos pequenos diante da infinitude do universo. O livro não é para todos os gostos. Não vá atrás de ficção cientifica, romance... Os livros estão mais para teses filosóficas.

Imagino o quão confusa a resenha deve parecer, então irei acrescentar algumas citações apenas para que possam entender a ideia geral do livro.

A história de todas as grandes civilizações tende a atravessar três fases distintas: a da Sobrevivência, a da interrogação e a da Sofisticação. A Sobrevivência pode ser caracterizada pela pergunta: “Como vamos poder comer?”; a interrogação, pela pergunta: “Por que comemos?” e A Sofisticação, pela pergunta: “Aonde vamos almoçar?”
Existe uma teoria que diz que se um dia alguém descobrir para que serve o universo e por que ele está aqui, ele desaparecerá instantaneamente e algo ainda mais estranho e improvável o substituirá. Existe outra que diz que isso já aconteceu.
.O Guia do Mochileiro da Galaxia, tem alguns conselhos a respeito de porres. "Vá fundo", diz o texto, " e boa sorte"


E eu deveria encerrar por aqui. De verdade. Mas, existe um capítulo em O restaurante no fim do universo que eu gosto demais. Quando eles encontram o "regente" do universo, então se se interessam continuem a ler, senão, podem acabar por aqui.


— Olá? — disse o homem.
— Ah, desculpe — disse Zarniwoop —, tenho motivos para acreditar...
— Você rege o Universo? — disse Zaphod. O homem sorriu para ele.
— Tento não reger — disse. — Vocês estão molhados? Zaphod olhou para ele
assombrado.
— Molhados? — gritou. — Não parece que estamos molhados?
— É o que me parece — disse o homem —, mas como vocês se sentem a esse
respeito poderia ser uma questão completamente diferente. Se acharem que o calor os
secará, é melhor entrarem.
Entraram.
Espiaram a cabana por dentro, Zarniwoop com aversão, Trillian com interesse,
Zaphod deliciado.
— Ei, ahn... — disse Zaphod — qual é seu nome? O homem olhou para eles em
dúvida.
— Não sei. Por que vocês acham que eu haveria de ter um? Parece-me muito
estranho dar um nome a um amontoado de vagas percepções sensoriais.
Convidou Trillian a sentar-se na poltrona. Ele se sentou na beirada, Zarniwoop
recostou-se rigidamente contra a mesa e Zaphod estendeu-se no colchão.
— Uauí! — disse Zaphod. — O assento do poder! — Fez cócegas no gato.
— Ouça — disse Zarniwoop —, tenho que lhe fazer algumas perguntas.
— Está bem — disse gentilmente o homem. — Pode cantar para meu gato se quiser.
— Ele gostaria? — perguntou Zaphod.
— É melhor perguntar para ele — disse o homem.
— Ele fala? — perguntou Zaphod.
— Não tenho lembrança dele falando — disse o homem —, mas sou bastante
falível.
Zarniwoop tirou algumas anotações do bolso.
— Agora — disse ele —, o senhor rege o Universo, não rege?
— Como posso saber? — disse o homem. Zarniwoop fez um sinal diante de uma
anotação no papel.
— Há quanto tempo o senhor faz isso?
— Ah — disse o homem —, essa é uma pergunta sobre o passado, não?
Zarniwoop olhou para ele, confuso. Não era isso exata-mente o que esperava.
— Ê — disse.
— Como posso saber — disse o homem —, se o passado não é uma ficção
projetada para explicar a discrepância entre minhas sensações físicas imediatas e meu estado
de espírito?
Zarniwoop cravou os olhos nele. O vapor começava a subir de suas roupas
encharcadas.
— Então você responde todas as perguntas desse jeito? — perguntou.
O homem respondeu rápido.
— Digo o que me ocorre dizer quando acho que ouço as pessoas dizerem coisas.
Mas eu não posso dizer.
Zaphod riu alegremente.
— Vou beber isso — disse, e pegou a garrafa de aguardente Janx. Levantou-se de
um salto e ofereceu a garrafa ao homem que rege o Universo, que a pegou com prazer.
— Muito bem, grande regente — disse. — Conte as coisas como as coisas são!
— Não, escute-me — disse Zarniwoop —, vêm pessoas ver você, não? Em naves...
— Acho que sim — disse o homem. Entregou a garrafa a Trillian.
— E eles lhe pedem — disse Zarniwoop — para tomar decisões para eles? Sobre as
vidas das pessoas, sobre os mundos, sobre economia, sobre guerras, sobre tudo o que se
passa no Universo lá fora?
— Lá fora? — disse o homem. — Onde?
— Lá fora! — disse Zarniwoop apontando para a porta.
— Como você sabe que tem alguma coisa lá fora? — disse o homem educadamente.
— A porta está fechada.
A chuva continuava a golpear o teto. Dentro da choupana estava quente.
— Mas você sabe que existe um Universo inteiro lá fora! — gritou Zarniwoop. —
Você não pode esquivar-se de suas responsabilidades dizendo que elas não existem!
O homem que rege o Universo pensou por um longo tempo enquanto Zarniwoop
trepidava de raiva.
— Você tem muita certeza de seus fatos — disse por fim. — Eu não confiaria num
homem que conta com o Universo, se é que existe um, como algo certo.
Zarniwoop ainda trepidava, mas estava em silêncio.
— Eu apenas decido sobre o meu Universo — prosseguiu o homem calmamente. —
Meu Universo são meus olhos e meus ouvidos. Qualquer coisa fora disso é boato.
— Mas você não crê em nada?
O homem sacudiu os ombros e apanhou seu gato.
— Não entendo o que você quer dizer — disse.
— Você não entende que o que decide nesta choupana afeta as vidas e os destinos
de milhões de pessoas? Isto tudo está monstruosamente errado!
— Não sei. Nunca vi essas pessoas todas de que você fala. E nem você, suspeito.
Elas existem apenas nas palavras que ouvimos. É loucura você dizer que sabe o que está
acontecendo com as outras pessoas. Só elas sabem, se existirem. Elas têm seus próprios
Universos de seus olhos e seus ouvidos.
Trillian disse:
— Acho que vou dar uma saída lá fora por um momento.
Saiu e foi andar na chuva.
— Você acredita que existem outras pessoas? — insistiu Zarniwoop.
— Não tenho opinião. Como posso saber?
— É melhor eu ir ver o que há com Trillian — disse Zaphod, e saiu.
Lá fora ele disse para ela:
— Acho que o Universo está em boas mãos, ehn?
— Muito boas — disse Trillian. Foram andando pela chuva.
Lá dentro, Zarniwoop continuava.
— Mas você não entende que as pessoas vivem ou morrem pela sua palavra?
O homem que rege o Universo esperou o quanto pôde. Quando ouviu o som débil
dos motores da nave sendo ligados, falou para encobri-lo.
— Não tem nada a ver comigo — disse —, não estou envolvido com as pessoas.
Deus sabe que não sou um homem cruel.
— Ah — vociferou Zarniwoop —, você diz "Deus". Você acredita em alguma
coisa!
— Meu gato — disse o homem benignamente, pegando-o e acariciando-o. — Eu o
chamo de Deus. Sou bom pira ele.
— Muito bem — disse Zarniwoop, pressionando. — Como você sabe que ele
existe? Como você sabe que ele sabe que você é bom, ou que ele gosta daquilo que ele acha
que é sua bondade?
— Eu não sei — disse o homem com um sorriso —, não tenho idéia. Simplesmente
me agrada agir de uma certa maneira com o que me parece ser um gato. Você se comporta
de outro jeito? Por favor, acho que estou cansado. Zarniwoop suspirou completamente
insatisfeito e olhou à sua volta.
— Onde estão os outros dois? — disse de repente.
— Que outros dois? — disse o homem que rege o Universo, recostando-se na
poltrona e enchendo o copo de uísque.
— Beeblebrox e a garota! Os dois estavam aqui!
— Não me lembro de ninguém. O passado é uma ficção para explicar...
— Esqueça — rosnou Zarniwoop e saiu correndo na chuva. Não havia nave. A
chuva continuava a revolver a lama. Não havia sinal que mostrasse onde tinha estado a
nave. Ele gritou na chuva. Virou-se e correu de volta para a choupana e a encontrou
trancada.O homem que rege o Universo cochilava em sua poltrona. Depois de um tempo
brincou com o lápis e o papel outra vez e ficou encantado ao descobrir como fazer uma
marca com um no outro. Havia vários barulhos vindos do lado de fora mas ele não sabia se
eram reais ou não. Ficou então falando com a mesa durante uma semana para ver como ela reagiria.



Até mais e obrigado por todos os peixes.

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